O que são alguns dias sem dormir perto da alegria de ter
(supostamente) conseguido vencer um vício?
Os meses foram avançando sem que eu botasse reparo na
insônia. Desde criança "brigo com o sono", desde a adolescência durmo
depois das 2h. Sempre fui notívaga, sempre amei a madrugada e quando me aceitei
escritora, então, descobri a delicia de escrever naquele espaço de tempo onde
somente o barulho do inseto batendo na lâmpada me fazia companhia.
Mas uma coisa é ESCOLHER fazer da madrugada uma fiel
escudeira, aproveitar o aconchego da noite para assistir filmes, ler, escrever,
arrumar os armários e até mesmo lavar roupa enquanto a máscara de argila atua
sob os poros da face. Outra, bem diferente, é QUERER dormir, sentir-se exausto,
irritado, sem concentração e não conseguir dormir nem fazer qualquer outra
coisa.
Foi no quarto mês sem cigarro que esse pesadelo chamado
"insônia" me abateu completamente. Foi nesse período, também, que
parei de usar os chicletes de nicotina e afrouxei a dieta Low- Carb que vinha
fazendo. Sobre a reposição de nicotina que fiz falei aqui.
Pois bem, passei quase um mês vendo o dia nascer nada feliz,
desmaiando de exaustão às 8h da matina com a barulhada de buzinas e carros de
Copacabana sob minha janela e a arruaça que o vizinho de cima faz todas as
manhãs sobre meu teto.
Dormia, mas não descansava. Acordava irritada, mal humorada,
cansada, sem ânimo e com vontade de chorar, mas achava que esses sintomas
faziam parte apenas da abstinência do cigarro e não efeito colateral de um quadro de insônia e depressão leve.
Quando bati 40 dias dormindo às 8h e acordando às 11h, entrando num grau de
cansaço mental e melancolia profunda, fazendo quadros de crises ansiosas dia
sim, dia também - falei sobre as crises ansiosas aqui - minha
médica (clínica geral e homeopata) me convenceu de que eu precisava tomar o tão
temido (por mim) Rivotril para poder regularizar meu ciclo do sono e controlar
a ansiedade.
A indicação era tomar por 15 dias 10 gotas e depois retornar
ao consultório. Eu tomaria apenas para regular o sono e depois voltaríamos à
homeopatia - e acupuntura, terapia,
meditação.
Mas e o medo de viciar? E o preconceito?
No dia seguinte acordei embotada, sem emoção, com a cabeça
pesada e vontade de fazer absolutamente nada. Fiz tudo no piloto automático. E
os 15 dias de Rivotril foram passando sem que eu fizesse outra coisa a não ser assistir lixo na TV e ver a vida dos outros andando pelo Instagram. Dormi bem, é verdade, mas continuei
tendo crises ansiosas (algumas até mais fortes e longas!).
Passado os 15 dias a prescrição mudou: tomar 4 gotas somente
quando sentir necessidade, quando estiver no meio de uma crise ansiosa ou de
pânico. Caberia a mim administrar de acordo com minha necessidade. Evitava ao máximo tomar, mas quando entrava no fluxo de pensamentos
catastróficos provenientes da crise ansiosa, tomava as 4 gotas indicadas. Foi assim que
baixei um vidro e meio no decorrer de alguns meses.
Sim, o remédio ajudou nesse período, pois ele interrompia as
crises de ansiedade, mas o que me tirou desse quadro (meses depois)
foi a terapia, a acupuntura e o apoio (amor) do meu pai, meu namorado, minha
família e amigos próximos. #eternagratidão
Tomar o remédio foi um exercício de humildade e coragem! Talvez uma
das barreiras mais difíceis que tive que saltar durante esse processo.
Não viciei, é verdade, mas não viciei porque odiava tomar o
remédio e odiava o efeito rebote dele no dia seguinte; porque usei a medicação
como uma boia, bem consciente de que era transitório, que não queria aquilo e me esforçando ao máximo
para usá-lo somente em última instância -
foram muitas as crises que atravessei sem tomar absolutamente nada.
Os relatos de amigos que começaram a administrar o Rivotril
e jamais conseguiram deixar por conta da dependência física psicológica me assustavam muito, ademais, quando escolhi deixar de fumar eu queria me
libertar dos vícios, não adquirir um novo!
Vontade de fumar? Isso não me pertencia mais! Estar ao lado
pessoas fumantes me gerava taquicardia e sudorese nas mãos, ansiedade, mas não
vontade.
Do quarto mês em diante minha luta deixou de ser vencer
"o cigarro"e passou a ser vencer a depressão e seu efeito colateral: no
meu caso as crises ansiosas.
O peso, ah, o peso! Lembrei! Essa página era para falar
disso... O peso continuou ok nesse período, oscilando entre "o ideal"
e 1,5kg - ou seja, eu estava deprimida,
ansiosa, tive que tomar um remédio tarja preta para poder dormir e sair de
crises, mas estava estranhamente satisfeita com o resultado da minha dita Low-Carb,
olhava no espelho e gostava do que via.
Fazendo um balanço das sete vezes anteriores em que tentei parar
de fumar percebi que em três delas tive recaída no quarto mês. O quarto mês de
fato é um dos mais difíceis de passar, pois a euforia de ter conseguido
abandonar o cigarro diminui, a novidade já não é mais tão novidade assim e o
corpo reclama absurdamente a ausência da nicotina que garantia doses cavalares
de dopamina diárias. É dureza, mas como tudo na vida: passa.
monicamontone
imagem: google
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