“Oh, pobre garotinha fútil, influenciada pela mídia; pobre
mocinha rasa que acredita que seu único valor está na beleza e que comprou o
discurso de que é preciso ter um corpo perfeito para ser aceito e amado; pobre
moça narcisa, escrava de sua imagem, que podia estar usando seu tempo e sua inteligência
para coisas relevantes, mas prefere canalizar sua energia para a manutenção de
um corpo”.
Essa fala existe. Está em minha boca - quando resolvo me julgar, me condenar e ser
severa comigo mesma – e está no silêncio punitivo dos que observam a vida de
longe e que se pretendem pensadores e críticos da sociedade moderna. Ah, também
está na boca de algumas meninas que se querem politizadas e libertárias, mas que
acreditam que toda dama vaidosa no fundo não passa de uma histérica potencial que
tem como objetivo de vida ser objeto de desejo alheio.
Sim, eu poderia estar escrevendo a resenha do último livro
que li ou da última peça que vi, por exemplo, no lugar de estar falando sobre “medo
de engordar e seus derivados”. E não,
apesar de vaidosa não desejo que todos os paus (e xoxotas) do universo latejem
por mim.
Acontece que eu não sou
hipócrita! Acontece que cresci ouvindo mãe, tias, professoras, primas, vizinhas,
fulanas e sicranas falando umas dos corpos das outras, ridicularizando esta e aquela
Maria (ou atriz/cantora) por elas terem engordado.
É muito fácil culpar a mídia pelas neuroses que carregamos
acerca da nossa imagem, todavia aprendi a observar outros corpos e buscar
defeito neles (e no meu) dentro de casa, na escola e mais tardar nas rodinhas
das amigas. A mídia e a indústria apenas perceberam esse buraco negro e vazio e
passaram a despejar tralha nele.
Será que existe uma única criatura na terra pós brasilis - um
dos países campeões de cirurgias plásticas – que nunca se preocupou com o seu
peso e sua imagem corporal? Os que passam fome nas ruas, talvez. Mas dentre os
que têm acesso à comida, educação, saúde, diversão e arte, existe?
Conheço meninas gordinhas que se amam, se
aceitam e tentam inspirar outras meninas gordinhas através das redes sociais
que relatam só terem alcançado essa paz de espírito (da aceitação) depois de
muita dieta, esforço, sofrimento e murro em ponto de faca.
Ou seja? Eu não sou diferente de ninguém! Ufa! E por conta
dessa preocupação, desse medo, desse receio que sabemos insano, mas
simplesmente não controlamos, adiei por muitos anos a decisão de abandonar o
cigarro. Fumantes do meu Brasil, quem nunca?
Melhor do que ficar criticando, condenando, julgando, é tentar fazer alguma coisa. Encarar o problema de frente, assumir as nossas fraquezas e tentar buscar soluções.
E foi justamente da tentativa de buscar soluções que nasceu a ideia do blog (saiba como tudo começou) . Imaginei que ele poderia cumprir duas funções bacanas:
1) Me ajudar a manter o foco, a disciplina e a fé, ou seja, servir
como um espaço pra desabafar minhas angustias relacionadas à crise de
abstinência, bem como partilhar estudos e pesquisas e dialogar com pessoas que
estão passando pela mesma aflição;
2) Desmistificar de alguma forma esse medo recorrente dos
fumantes que desejam parar e, quem sabe, incentivar pessoas a largarem o vício.
A primeira função ele vem cumprindo desde que comecei a anotar
todas as minhas doiduras decorrentes da retirada da nicotina (comecei a fazer
anotações logo no primeiro mês). Já a segunda é o que desejo sincera e amorosamente!
Se eu conseguir incentivar positivamente e/ou ajudar alguém que esteja sofrendo
na fase da abstinência por este ou aquele motivo me darei por feliz e agradecida.
monicamontone
Nenhum comentário:
Postar um comentário