20.8.17

medo de engordar ao parar de fumar

“Oh, pobre garotinha fútil, influenciada pela mídia; pobre mocinha rasa que acredita que seu único valor está na beleza e que comprou o discurso de que é preciso ter um corpo perfeito para ser aceito e amado; pobre moça narcisa, escrava de sua imagem, que podia estar usando seu tempo e sua inteligência para coisas relevantes, mas prefere canalizar sua energia para a manutenção de um corpo”.

Essa fala existe. Está em minha boca  - quando resolvo me julgar, me condenar e ser severa comigo mesma – e está no silêncio punitivo dos que observam a vida de longe e que se pretendem pensadores e críticos da sociedade moderna. Ah, também está na boca de algumas meninas que se querem politizadas e libertárias, mas que acreditam que toda dama vaidosa no fundo não passa de uma histérica potencial que tem como objetivo de vida ser objeto de desejo alheio.

Sim, eu poderia estar escrevendo a resenha do último livro que li ou da última peça que vi, por exemplo, no lugar de estar falando sobre “medo de engordar e seus derivados”.  E não, apesar de vaidosa não desejo que todos os paus (e xoxotas) do universo latejem por mim.

Acontece que eu não sou hipócrita! Acontece que cresci ouvindo mãe, tias, professoras, primas, vizinhas, fulanas e sicranas falando umas dos corpos das outras, ridicularizando esta e aquela Maria (ou atriz/cantora) por elas terem engordado.

É muito fácil culpar a mídia pelas neuroses que carregamos acerca da nossa imagem, todavia aprendi a observar outros corpos e buscar defeito neles (e no meu) dentro de casa, na escola e mais tardar nas rodinhas das amigas. A mídia e a indústria apenas perceberam esse buraco negro e vazio e passaram a despejar tralha nele.

Será que existe uma única criatura na terra pós brasilis - um dos países campeões de cirurgias plásticas – que nunca se preocupou com o seu peso e sua imagem corporal? Os que passam fome nas ruas, talvez. Mas dentre os que têm acesso à comida, educação, saúde, diversão e arte, existe?

Conheço meninas gordinhas que se amam, se aceitam e tentam inspirar outras meninas gordinhas através das redes sociais que relatam só terem alcançado essa paz de espírito (da aceitação) depois de muita dieta, esforço, sofrimento e murro em ponto de faca.  

Ou seja? Eu não sou diferente de ninguém! Ufa! E por conta dessa preocupação, desse medo, desse receio que sabemos insano, mas simplesmente não controlamos, adiei por muitos anos a decisão de abandonar o cigarro. Fumantes do meu Brasil, quem nunca? 

Melhor do que ficar criticando, condenando, julgando, é tentar fazer alguma coisa. Encarar o problema de frente, assumir as nossas fraquezas e tentar buscar soluções. 

E foi justamente da tentativa de buscar soluções que nasceu a ideia do blog (saiba como tudo começou) . Imaginei que ele poderia cumprir duas funções bacanas: 

1) Me ajudar a manter o foco, a disciplina e a fé, ou seja, servir como um espaço pra desabafar minhas angustias relacionadas à crise de abstinência, bem como partilhar estudos e pesquisas e dialogar com pessoas que estão passando pela mesma aflição;

2) Desmistificar de alguma forma esse medo recorrente dos fumantes que desejam parar e, quem sabe, incentivar pessoas a largarem o vício.

A primeira função ele vem cumprindo desde que comecei a anotar todas as minhas doiduras decorrentes da retirada da nicotina (comecei a fazer anotações logo no primeiro mês). Já a segunda é o que desejo sincera e amorosamente! Se eu conseguir incentivar positivamente e/ou ajudar alguém que esteja sofrendo na fase da abstinência por este ou aquele motivo me darei por feliz e agradecida.

monicamontone


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