1. SIM, a reposição de nicotina ajuda muito, diria que é
fundamental e imprescindível nos primeiros meses, pois alivia verdadeiramente
os sintomas da abstinência.
2. NÃO, não se deve sair usando o selinho ou o chiclete
indiscriminadamente por aí, é preciso ter cuidado e cautela na sua
administração - pessoas com problemas cardiovasculares, por exemplo, não são indicadas ao consumo, o ideal é procurar orientação médica.
Lembro-me que numa das vezes em que tentei parar de fumar e
acabei voltando, colei o selinho sem prestar muita atenção à bula e saí para beber uma cervejinha com uns amigos. Como a maioria deles fumava, acabei
dando umas boas baforadas, pensei “estou parando, mas ainda não parei, portanto
só uns traguinhos não me farão tão mal”. Ledo engano! Tive taquicardia,
teto-preto, falta de ar, suadeira e
cheguei ao hospital carregada, achando que estava morrendo. A primeira atitude
do médico foi arrancar o selinho do meu braço e perguntar se eu tinha fumado. O
que quer dizer que aprendi da pior forma possível que não se pode fumar - nem
dar um traguinho sequer - quando se está fazendo reposição de nicotina.
Como não tenho nenhum problema de saúde e já tinha usado em
outros momentos tanto o selinho quanto o chiclete, conversei com minha médica e optamos pelo uso do selinho NiQuitin + remédio homeopático + floral.
Os selinhos eu usei por apenas um mês, pois eles começaram a
me dar alergia, irritação e vermelhidão na pele.
O chiclete Nicorette usei por mais
ou menos 3 meses e meio - costumava brincar que ele era “a calma em bolso”, uma
vez que ele baixava demais o meu nível de estresse diante de algum problema.
São caros? Bem, eu diria que não são baratos (média de R$50, R$60 a caixa),
porém, fazendo os cálculos percebi que uma caixa de NiQuitin (que dura uma
semana) era quase o mesmo preço de sete maços de cigarros (um maço por dia).
A reposição de nicotina não garante o sucesso do nosso
processo, mas ameniza (e muito!) a vontade de fumar e a irritabilidade característica
da abstinência, digamos que é uma espécie de boia quando estamos nos afogando num mar
revolto.
monicamontone
Leia abaixo o que dizem os especialistas em dependência química Ronaldo Laranjeira e Analice Gigliotti:
Terapia de Reposição de Nicotina (TRN)
O uso desse tipo de terapia baseia-se na necessidade de
reduzir o sofrimento do fumante com os sintomas da abstinência. Mas, embora a
maioria das pessoas fume primariamente para obter nicotina, ela é apenas uma
entre as mais de 4.000 substâncias químicas do cigarro e um dos seus
constituintes menos tóxicos. Segundo a conclusão de 1990 do Relatório do
Cirurgião Geral dos Estados Unidos, os efeitos maléficos do tabagismo são
largamente atribuíveis ao alcatrão, ao monóxido de carbono e a outros
constituintes tóxicos da fumaça do cigarro.
Sozinha, uma medicação que distribua nicotina no organismo
do indivíduo não constitui uma terapia de cessação de fumar completa. Vários
pesquisadores concordam que é “fundamental que haja alguma forma de intervenção
comportamental em todas as terapias para dependência de drogas”.5 A terapia de
reposição de nicotina é definida como “a aplicação sistemática de medicações
que distribuem nicotina e princípios comportamentais para estabelecer e manter
a abstinência ao tabaco”.
De acordo com o recém-publicado “Manual para Cessação de
Fumar na Prática Clínica” do Agency for Health Care Policy and Research
(AHCPR), a TRN é o tratamento de primeira linha para a dependência ao tabaco,
exceto em circunstâncias especiais que serão abordadas posteriormente. 2 Neste
manual, através da metanálise de 42 ensaios clínicos controlados com as
diversas formas de reposição de nicotina, Fiore e seus colegas concluíram que a
TRN é eficaz, seja utilizada isoladamente ou em conjunto com outros abordagens
terapêuticas. Embora as taxas de abstinência variem de acordo com o contexto,
esta terapia costuma dobrar as chances de sucesso na cessação de fumar.
Tipos de TRN e sua forma de utilização
Chicletes
A nicotina só começou a ser utilizada na forma de
chicletes no final da década de 80 e foi em 1996 que houve sua liberação para
venda OTC (sem prescrição médica) nos EUA. Eles podem ser encontrados nas doses
de 2mg e 4mg. Nos EUA recebem o nome de Nicorette No momento não se encontram à venda no Brasil mas serão lançados em breve no mercado [atualização: já disponível nas versões 2mg e 4mg].
O FDA recomenda seu
uso acompanhado de um programa comportamental. Essa terapêutica parece atingir
maiores índices de abstinência a longo prazo se feita em regime fixo de
administração (a cada hora enquanto acordado) ao invés de ad libtum.
Um fator importante para obtenção de eficácia no uso desses
chicletes é sua técnica de utilização. Não devem ser mastigados como um
chiclete comum. (Recomenda-se que o chiclete seja mastigado algumas vezes até
que o sabor da nicotina torne-se aparente. Após isso, deve-se depositar o
chiclete entre a gengiva e a bochecha até que o gosto desapareça. A partir de
então o mesmo ciclo de mastigar e depositar o chiclete deve ser repetido até
que se completem 30 minutos de uso do mesmo, quando deve ser desprezado). Além
disso, o uso de bebidas durante seu processo de utilização pode “lavar” a
nicotina bucal, tornando o produto ineficaz.
Se o chiclete é utilizado como única terapia farmacológica,
deve-se encorajar o uso da dose de 4mg para fumantes pesados (mais de 20
cigarros/dia). A maioria dos pacientes costuma ter que mascar de 10 a 15 gomas
por dia para alcançar a abstinência.
Adesivos
Com o objetivo de aumentar ainda mais as taxas de
abstinência ao tabaco, outra forma de administração da nicotina foi
desenvolvida: os adesivos de nicotina transdérmica, cujo uso é fácil. Devem ser
trocados a cada 24 horas e não impedem que o indivíduo faça esporte. Têm como
efeito colateral mais comum a presença de irritações de pele que podem impedir
a continuidade do tratamento. A maioria dos estudos com nicotina transdérmica
foi realizada em clínicas especializadas, com alguma espécie de suporte
comportamental.
O tempo ideal de tratamento ainda não foi totalmente
esclarecido, assim como a dose ideal para se iniciar o tratamento. No Brasil, o
único disponível por enquanto é o “Nicotinel TTS” [atualização: atualmente o mais utilizado no Brasil é o NiQuitin, nas versões 21mg, 14mg, 7mg] .
Tipicamente aplica-se um
adesivo de 30 mg durante quatro semanas, seguidas de mais quatro semanas com os
adesivos de 20 mg e mais quatro com os de 10 mg. Dessa forma, faz-se uma
redução gradual da nicotina sérica. Alguns pacientes podem precisar de menos
tempo de terapia e outros podem fazer uso dos adesivos por um ano ou mais,
dependendo do seu grau de tolerância aos efeitos colaterais.
A experiência da Universidade Federal de São Paulo-Escola
Paulista de Medicina tem sido a de usar o adesivo de 30 mg por quatro semanas.
Já na Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, utiliza-se o adesivo da
seguinte maneira: 30 mg por 10 dias; por mais 10 dias alterna-se, um dia com um
adesivo de 30 mg, outro com meio adesivo de 30 mg; e finalmente meio adesivo de
30 mg nos últimos 10 dias. Em ambos os casos utiliza-se apenas uma caixa de 30
mg dos adesivos.
A questão das doses
Atualmente sabe-se que o número de cigarros por dia
(cpd) pode ser usado para estimar a dose de reposição de nicotina necessária.
No Brasil, um adesivo de 30 mg equivale a 20 cigarros. Fumantes de mais de dois
maços por dia devem utilizar dois adesivos de 30 mg. Um monitoramento cuidadoso
e freqüente e o ajuste das doses pode ser necessário para se adquirir alívio
adequado dos sintomas da abstinência.
Uso combinado dos chicletes e adesivos de nicotina
Num estudo realizado por Fargeström et al, os indivíduos que
receberam tratamento combinado de adesivo e chiclete de nicotina obtiveram
maior alívio dos sintomas de abstinência que aqueles usando cada um dos dois
isoladamente. Nesse estudo, os autores utilizaram um adesivo de liberação de
nicotina por 16 horas e prescreveram chicletes de 2mg de nicotina ad libtum,
sendo usados no mínimo 4 e no máximo 20 vezes ao dia.
Segurança da TRN
Grande parte do temor na utilização da TRN deve-se aos
seguintes fatores: a nicotina está associada a doenças cardiovasculares.
Atualmente já se sabe que em pacientes com doença coronariana a nicotina pode
causar vasoconstrição coronária, arritmias e aumentar a demanda cardíaca. Esse
potencial, entretanto, só é verdadeiro para formas de liberação da nicotina “em
bolo”, como nos cigarros. Nas doses tipicamente administradas pelos adesivos e
chicletes, de liberação mais lenta, isso não parece se confirmar. Ao contrário,
o envolvimento do tabagismo na maior incidência de infarto agudo do miocárdio
parece estar mais relacionado à aspiração de monóxido de carbono e à conseqüente
menor oxigenação do miocárdio.
Como um todo, a TRN é muito mais segura que
continuar fumando, mesmo em pacientes com doença cardiovascular; a nicotina (e
portanto a TRN) pode levar a dependência. Esse potencial não se confirma nas
formas de chiclete e adesivo. Na experiência pessoal dos autores, que já
trataram aproximadamente 800 pacientes com esse tipo de medicação, houve apenas
um relato de dependência de chicletes de nicotina.
Restrições à utilização
São basicamente duas:
1. pacientes com história pregressa de
infarto do miocárdio (essa restrição é discutível, como vimos anteriormente);
2. gestantes.
O papel da nicotina nos efeitos adversos do tabagismo durante a gestação ainda
é incerto. Ela parece estar relacionada ao nascimento de bebês de baixo peso.
De forma ideal, deve-se eliminar a nicotina nesse tipo de paciente. Entretanto,
a utilização da TRN ainda é mais segura que continuar fumando.
A segurança na utilização dessas medicações e sua eficácia
comprovada levou até mesmo à liberação dos chicletes e adesivos de nicotina
para venda sem prescrição médica nos Estados Unidos e na Europa.
imagem: google
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