Além das informações sobre os números alarmantes relacionados
ao tabagismo - só no Brasil 800 mil
pessoas morrem ao ano por conta do cigarro: 600 mil como fumantes passivos e
200 mil como tabagistas - o programa
“Saúde é Vida”, dedicado ao tema, chamou-me a atenção por conta de três falas:
1. “O cigarro está se tornando gradativamente um hábito das
pessoas mais pobres, um motivo que talvez justifique isso seja o menor acesso à
informação”. (Rodolfo Behrsin, pneumologista)
2. “Uma pessoa que tem uma memória e que tem uma capacidade
criativa como o Chico Anysio tinha, um gênio, não conseguir levar a colher até
a própria boca (...) A pessoa vai morrer, claro, todos nós vamos morrer, mas a
diferença entre você poder morrer bem, você poder ter uma morte rápida - uma morte santa como minha avó falava - e de ter uma morte lenta, dolorida, sofrida e
consciente de que tudo poderia ter sido diferente, que você foi vítima de
interesses [da indústria tabagista]. (Malga di Paula - diretora do instituto Chico Anysio)
3. “A pessoa precisa aprender a gostar dela mesma porque se
ela aprender a gostar dela mesma ela vai largar o cigarro” ( Maria Castorina
Lopes, aposentada e ex-fumante).
O pneumologista Rodolfo (infelizmente) tem razão em sua
observação de que fumar tem se tornado um hábito de pessoas mais pobres, mas
não creio que o motivo seja a falta de informação, afinal com o advento do Smartphone e o crescimento das Redes Sociais a informação se tornou mais
democrática. Acredito que a modinha natureba das classes A e B fez com que o cigarro se tornasse démodé em
tais círculos sociais diminuindo assim o consumo nessas classes. Se no passado era podre de chique fumar numa piteira de ouro, hoje o símbolo de status é outro: podre de chique é comer bem (e consumir produtinhos funcionais, orgânicos e saudáveis como o sal rosa de não sei onde) praticar esportes ao ar livre, meditar, fazer yôga. E o pobre, well, pobre só se lasca! Às vezes não tem nem feijão com arroz para comer que dirá um suflê de couve-flor temperado com sal rosa de não sei onde... O pobre continua comendo mal (quando come!) e fumando (quando fuma) mata rato do Paraguai, snif.
Sobre a fala de Malga, bem, fiquei comovida. Quando a gente
é adolescente a morte parece algo tão distante... Se preparar para “uma boa
morte”, então, soa como piada mórbida. Fiquei pensando cá com meus botões que a
campanhas antitabagismo talvez devessem investir mais nos efeitos colaterais
das doenças do que nos números relacionados a mortes. A mim, por exemplo, causa
muito mais horror me pensar doente, dependente, entrevada numa cama, do que “pá-pum,
morreu”. E quando as campanhas dizem “cigarro mata” sem querer passam a
impressão de que essa morte é “pá-pum”.
E sim, mil vezes sim, Maria Castorina tem toda razão:
somente quando a gente aprende a gostar da gente é que consegue abandonar
qualquer vício nocivo e o caminho para isso é o autoconhecimento.
Quanto mais nos conhecemos, quanto mais aceitamos nossas
franquezas, quanto mais nos perdoamos, quanto mais abandonamos o vício de se
culpar e se punir; quando deixarmos de precisar da aprovação alheia para
absolutamente tudo, quando nos acolhemos diante de um erro, quando aceitamos
que não somos perfeitos, mas podemos ser bacanas, aí, sim, estamos prontos para
olhar esse monstro chamado abstinência nos olhos!
Assista abaixo ao programa na íntegra.
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