30.10.17

cerveja e castigo

Quando foi que eu me tornei essa pessoa tão frágil e insegura? Ou será que sempre fui, mas nunca quis admitir?

Por que alguns quilos a mais são capazes de fazer com que eu acredite que todas as mulheres (magras) do ambiente são melhores e mais bonitas do que eu e que por esse motivo meu namorado está prestando atenção em todas elas?

Meu namorado é um lord, um sujeito elegante, jamais ficaria olhando para outras meninas na minha frente (ele nunca fez isso) e estava numa conversa animadíssima com um amigo nosso que estava hospedado em sua casa, ele sequer estava olhando para os lados, no entanto, porque EU notei duas garçonetes magras e descoladas  (estávamos numa cervejaria artesanal com pegada rock and roll) zanzando daqui pra lá fiquei extremamente incomodada. 

Isso nunca tinha me acontecido antes! Esse incomodo nunca tinha me acontecido antes porque eu sempre consegui controlar meu peso e me manter magra.

Minha primeira reação ao incômodo: não comer. Eu estava faminta, mas como me senti um hipopótamo dentro daquela cervejaria comer apenas aumentaria essa sensação e por mais que eu soubesse racionalmente que nenhuma bunda cresce do dia para a noite, não consegui comer.

Me entupi de cerveja, briguei com meu namorado por um motivo bastante idiota (que nada tinha a ver com as moças aparentemente) e voltei para casa chorando por estar me sentindo horrorosa e me sentindo ameaçada por duas desconhecidas só por elas estarem mais magras do que eu.

Chegando em casa tomei uma sopa que tinha na geladeira, mas estava com tanto ódio de mim por "ter me permitido ficar daquele tamanho" que vomitei a sopa toda.

No dia seguinte acordei arrasada! De ressaca e com vergonha da minha fragilidade e insanidade - nunca, em tempo algum, duas garçonetes magricelas e cheias de tatuagens me deixariam incomodada. O que diabos estava acontecendo comigo?  

Comecei a semana na maior bad. Tinha jurado para mim que não ia mais beber até emagrecer e quebrei o juramento no final de semana quando recebi um amigo de fora na cidade. Bebi muito sexta, sábado e domingo e quando subi na balança segunda-feira o resultado do estrago estava lá: 1,5kg a mais.

Detalhe: meu amigo de fora é fumante e fumou o final de semana inteiro perto de mim. Eu deveria ter me dando os parabéns por não ter tido nenhuma recaída, por não ter dado um único trago compartilhado sequer; deveria ter sentido orgulho de mim! Mas não, preferi me punir por ter engordado  1,5kg e passei a semana afundada no meu sentimento de paralisia e depressão. 

 A sensação de estar perdendo o controle do meu corpo fez com que eu perdesse o controle das minhas emoções e isso me assustou por demais e me botou mais ansiosa ainda.

Como vinha fazendo, levei tudo para o divã: ansiedade, necessidade de controle, autoimagem desregulada, insegurança, autopunição, medos desproporcionais e despropositais.

Naquela segunda-feira senti muita pena de mim. Pena por nunca ter tratado com carinho, seriedade e coragem o meu transtorno alimentar. Mas isso já é assunto pra outro post.


Nota: relato escrito com 8 meses de abstinência 

monicamontone





fotos da noite fatídica: depois de chorar no banheiro da cervejaria/ 8 meses sem cigarro/  66kg

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