11.11.17

a primeira vez que vomitei o meu jantar

A primeira vez que vomitei depois de comer foi num jantar na casa de um ex-namorado riquinho (querido!) cuja mãe me detestava e vivia jogando indiretas de que eu não servia para ele, de que a ex dele, sim, era uma moça a sua altura e de que eu estava com o rapazote por interesse. 

Tudo muito sutilmente, claro. Essas coisas eram ditas na base da "brincadeirinha", of course. 

Não estava! Além de ser apaixonada pelo moço na época, eu era uma adolescente idealista, sonhadora, rebelde e meio hippie - recusava-me a estudar inglês, por exemplo, porque não queria me curvar ao "capitalismo selvagem dos EUA". 

Eu tinha apenas 17 anos e na minha cabecinha a beleza era o meu maior (se não único) valor e o meu corpo era a única coisa que podia de fato controlar, portanto "tinha" que me manter magra!

Mas eu adorava comer! Minha família italiana por parte de pai se reunia todo domingo em volta de uma mesa farta, cresci com uma nonna fazendo nhoque e pudim de leite na cozinha.

Como fechar a equação "gostar de comer" x "ficar magra"?

Simples: vomitando tudo que comia, tomando laxantes fortíssimos antes dos jantares caros que o namorado riquinho pagava - ah, se a sogra megera soubesse que literalmente caguei todo o dinheiro do filhinho dela, rarará - e treinando obsessivamente.

Foram 2 anos contando calorias, treinando muito, vomitando e tomando laxante.

 Minha família não percebeu, pois não cheguei a emagrecer demais - mamãe achava apenas que eu estava com mania de dieta e às vezes comentava, inocentemente, com alguma visita: 

_ Essa menina, agora, parece um coelho, só quer saber de comer folha!

Aos 19 anos a faculdade de Psicologia me salvou!

Logo no primeiro período tive aulas sobre Transtornos Alimentares e fiquei perplexa com os vídeos que assisti contendo depoimentos de garotas que eram pele e osso - naquela época a Internet e seu vulcão de informações ainda não haviam explodido; eu nunca tinha escutado falar de bulimia.

Senti um medo TERRÍVEL de ficar igual àquelas meninas e simplesmente PAREI o que estava fazendo.

Depois me mudei para o Rio, cidade onde a preocupação com os corpos exibidos na praia é grande e entrei no fluxo da cidade praiana: treinos diários, bicicleta como transporte; passei a comer somente grãos integrais, legumes, verduras frescas - uma quase ortorexia (já era vegetariana).

Hoje em dia é raríssimo acontecer um ataque de hiperfagia - compulsão alimentar desenfreada na qual se come vorazmente diversos tipos de alimentos, misturando doce com salgado, engolindo praticamente sem mastigar.

Há anos não tomo laxante nem vomito meus jantares, mas estou longe de ter uma relação saudável com a comida. Sempre existe um sentimento de culpa rondando os espaguetes que como e uma tendência a treinar mais quando acho que exagerei no garfo.

Parar de fumar e ganhar um pouco de peso acordou todos esses fantasmas, porém tenho trabalhado essas questões na terapia com coragem e honestidade e aos poucos tenho conseguido me convencer de que "estar no peso ideal" não é um pedágio que preciso pagar para existir.

Falei mais sobre o assunto no texto eu tinha tinha transtorno alimentar e fingia que não sabia

monicamontone  


imagem google 

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