Se o
Instagram e o Facebook não existissem eu teria chorado após me sentir
(vir) gorda no Boomerang?
A resposta
sociocultural eu não sei, mas a minha pessoal não tenho dúvida: não.
Acordei num
dia de good hair, ô glória! Com os cabelos anelados ao modo e gosto da chefe: volume e
textura no ponto.
Coloquei um vestido rosa vibrante, passei um batom vermelho e
amei a imagem que vi no espelho.
Comi uma
salada de frutas + um chá de limão com gengibre de café da manhã e depois fui
conhecer o comércio local. Acabei comprando um biquíni nude de veludo molhado
maravilhoso. Enquanto experimentava, uma senhorinha que entrava na loja disparou "ficou lindo em você porque seu corpo é ótimo". Oba, quem é que não não gosta de um elogio gratuito, né?
Almocei uma super salada com tapioca e ovos mexidos, escrevi um texto interessante - sobre nossa
relação com o ganho de peso alheio - e me senti extremamente satisfeita comigo e
com o mundinho ao meu redor.
A paisagem tropical-cinza tinha uma contradição pungente. "Gosto de praia com céu
cinza, gosto mesmo".
Eu estava na companhia do meu grande amor, o cabelo havia amanhecido bom
e eu tinha parido um texto lúcido e bem escrito. O que mais eu poderia querer? A comida estava boa, a música
também. O cenário perfeito.
Teve até comprinha do biquíni
(ô coisa boa) naquele dia. Mas de repente...
De repente
não mais que de repente eu tive a brilhante ideia de fazer um Boomerang. Mais que isso, resolvi
postar um Boomerang no Instagram.
Quatro
vizualiações e duas curtidas depois, printei e... Cabum! A bomba
explodiu.
Que barriga
era aquela? Fiquei completamente transtornada, irritada, mal humorada, grosseira.
Corri para olhar a foto que tirei usando o mesmo vestido só que na época em que ainda fazia reposição de nicotina. A diferença era gritante, berrante.
Tirei o
Boomerang do ar. Abri o berreiro.
E o Boomerang era tão divertido! Era a lembrança de um dia tão bom!..
Só parei de
chorar depois que sentei para escrever esse texto. Só parei de chorar quando me dei conta de que meu
dia estava ótimo e que eu estava me sentindo linda antes do maldito Boomerang.
Foram quase 40 minutos de negociação com a minha mente adoecida para que ela não estragasse meu dia por completo, para que ela percebesse que eu estava feliz e tendo um dia ótimo apesar da barriga estar maior que o normal, apesar de estar atravessando um momento que quase todos experimentam ao deixar de fumar e que cedo ou trade ia retomar "a forma original".
Pergunta que
não quer calar: nos incomodamos com o nosso peso (corpo) ou nos incomodamos
com o peso do olhar (crítica/julgamento) do outro?
Sim, porque antes de postar o Boomerang meu dia estava pleníssimo. Ou sou a única a experimentar esse tipo de doidice?
E quem será
esse outro, afinal, uma vez que as pessoas que me cercam estão me achando linda
do jeito que eu estou e me amam do jeito que eu sou? Se as pessoas que me amam estão vibrando com minha conquista de ter parado de fumar sem atentar para os efeitos colaterais disso?
Por que
associo sem querer quilos a mais com afeto de menos?
texto escrito no celular, na praia do Francês/junho
monicamontone
print do Boomerang que me fez chorar (é muita loucura, não?)
Nenhum comentário:
Postar um comentário