Com que
roupa eu vou? Drama de toda mulher, certo? Mas para quem ganhou uns quilinhos depois de parar de fumar e é
vaidosa, drama ao quadrado.
Porque é
aquela coisa, as roupas ainda servem, porém não tem o mesmo caimento e acabam
valorizando partes que na verdade queremos esconder.
Pois bem,
depois sofrer para encontrar uma roupa que me deixasse confortável em minha
própria pele (leia: me sentindo bonita por dentro e por fora) fui encontrar uma amiga querida.
Passamos uma
tarde agradabilíssima falando sobre o sexo das baleias, visitando exposições,
rindo, tomando cafés, chorando, trocando confidências.
Até que ela
soltou:
- Estou
desesperada, amiga, preciso emagrecer de qualquer jeito! Vou parar de comer a noite! Não estou entrando em nenhuma calça 36 mais e as 38 estão ficando apertadas, se
eu tiver que usar manequim 40 eu prefiro me matar.
Fiquei
ouvindo aquilo, dentro da minha calça que pulou do 40 para o 42 depois que
parei de fumar, pensando: “gente, mas se ela que tem barriga negativa e está
com um corpo lindo pensa isso mesmo dela, o que não deve pensar de mim? Deve
achar que sou uma baleia azul assassina”.
Respondi:
- Eu acho
que você está linda, amiga, e que é muito exigente com você mesma. Eu estou
numa calça 42 e não é o fim do mundo, tampouco quero me matar por isso.
- Não,
amiga, mas você está linda! Você é linda de qualquer jeito! Eu consigo ver
beleza em pessoas que não são magérrimas, como é o seu caso, mas no meu caso, no meu corpo, não
consigo imaginar, fico desesperada.
Foi então
que me dei conta de duas coisas:
1) Que esse
tipo de fala“ você está linda assim, mas para mim não serve” é um elogio meio burro,
pois se não queremos algo para nós - que somos egocêntricos por natureza- é porque no fundo achamos aquilo um
lixo. Eu mesma já cometi a sandice de dizer para uma amiga gordinha “admiro
tanto você, acho foda sua coragem de usar essas roupas mesmo estando gordinha, eu
jamais conseguiria”, ou, pior “eu no seu lugar já teria cortado os pulsos”
(para uma amiga que tinha acabado engordar uns bons quilos por conta de um problema emocional). Eu pensava que estava demonstrando empatia com essas frases, só que não.
2) Somos
todos gordofóbicos em maior ou menor grau e ao contrário do que muita gente pensa gordofobia não tem a
ver apenas com preconceito ou aversão aos gordinhos, mas com medo excessivo de engordar, medo de não
usar manequins padrão, medo de gordurinhas localizadas, necessidade de
controlar o peso, etc.
O
nutricionista comportamental Rafael Marques, escreveu em sua página
Comportamento Alimentar, no Instagram:
“Muitas
pessoas não entendem o que é gordofobia e pensam que esse é o nome da aversão
ou até mesmo o ódio direcionado àqueles que estão com sobrepeso ou obesos, mas
o conceito vai muito além disso, é uma síndrome sociocultural, um medo absurdo
e irracional da gordura real ou imaginária que vai beirando ao terror! A beleza
se desvincula do biótipo e principalmente da saúde. Se a pessoa acha que todos
são dignos de amor e respeito, mas quando se trata dela engordar, ela diz “é
bom para os outros, eu só não quero ser gordo”, gordofobia internalizada! Se
ela espera secretamente perder peso e teme a ideia de que comer vai levar ao
ganho de peso permanente, isso é gordofobia. Ela já viu uma pessoa acima do
peso e fez julgamentos negativos sobre seu estilo de vida, hábitos alimentares
ou níveis de autorespeito? Gordofobia novamente. Comumente chamada também de
lipofobia - significa medo de gordura”.
Voltando para
casa depois do encontro com minha amiga fiquei pensando na quantidade de tempo que perdi (e ainda perco) me
angustiando com o controle do meu peso e do meu corpo, no sofrimento de minha
amiga e de milhares de mulheres, mas fiquei feliz comigo mesma, pois continuei
me achando bonita dentro de minha calça 42 e preocupada com minha amiga que é linda, inteligente, generosa e mas se exige e se cobra em demasia.
monicamontone
Falando nisso
Fiz a foto abaixo (a segunda, of course) minutos antes de encontrar minha amiga, vestindo a famigerada calça 42. Ok, estou dando uma murchadinha básica de barriga, como qualquer pessoa que se ajeita para fazer uma foto faz (quem nunca?). Ok, estou um bocadinho acima do meu peso normal. Mas não estou abominável ao ponto de "querer morrer" como minha amiga disse que quereria caso ficasse igual a mim - eu sei que ela falou da boca para fora, que foi "modo de dizer" e que falamos essas coisas sem pensar, todavia querendo ou não essa fala replete nosso grau de sofrimento emocional em relação a essa questão. Agora falando sério, se eu e minha amiga (que estamos longe de ter corpos totalmente fora dos padrões) falamos essas besteiras, sentimos essas besteiras, pensamos essas besteiras, como não devem se se sentir as meninas que realmente estão totalmente fora dos padrões de beleza pré-estabelecidos?
foto: google
euzinha dentro da minha calça 42
Moniquinha se vc engordou, não dá pra ver , mesmo. Continua linda e gostosa heheh
ResponderExcluirBjs fina flor