Uau, aqui
estou!
Aqui estou:
sentada na poltrona que durante meses me causou terror; minha poltrona amada de
trabalho.
Foram anos e
mais anos sentadinha nela, escrevendo, escrevendo, escrevendo.
Como já
estou na sétima tentativa de largar o cigarro, sabia que não teria concentração para nada nos dois primeiros meses, portanto, não fiquei aflita por não conseguir
sentar para escrever, tampouco ter inspiração ou disposição para trabalhar
confortavelmente em minha poltroninha bege.
Todavia, assim como um homem não se banha no mesmo rio duas vezes, nenhum mergulho na abstinência é igual a outro. Quando minha concentração voltou (lá pelo quarto mês) e
consegui voltar a ler (o que foi um alívio!) fiz a retirada da reposição de nicotina (no caso, o chiclete) e com isso agravei um quadro de depressão já
instalado.
Resultado? Não
podia nem olhar para a pobre da minha poltrona que nada tinha a ver com o pato. Ela representava meu total fracasso,
minha total incapacidade de controlar meus sentimentos, minha mente e meu corpo
(que fermentou alguns quilos de lá para cá).
Ela, a poltrona, parecia
zombar de mim todas as manhãs. O notebook, coitado, ficou fechado e todo
empoeirado sobre a mesinha que namora a poltrona (o casal mesinha + poltrona
não se desgruda).
E a zombaria
do casalzinho (leia: dos fantasmas da minha cabeça) me deixava com a certeza de que eu
nunca mais voltaria a escrever, que jamais esse ato me seria prazeroso, natural, vital, tampouco fonte de renda.
Acontece que
a loucura é carente, ela nunca anda sozinha! Ela tem pavor da solidão. Então,
vez ou outra ela carrega a culpa, o medo, a vergonha, a dor, o desassossego, um
espírito obsessor perdido qualquer, pra passear com ela.
E quando esses passeios se dão, tome espiral,
avalanche de pensamentos aterrorizantes: “se não vou mais escrever, o que vou
fazer da vida?”, “como vou pagar minhas contas se nem profissão tenho mais?”, “tenho
que ter uma ideia para começar algo do zero, uma nova carreira, mas qual?”, “eu
vou morrer de fome”, “eu não vou ter como pagar meu aluguel”, “eu vou morar
debaixo da ponte”, “eu fracassei”, “eu sou uma loser”, “eu tô uma porca de
gorda”, “meu namorado não me aguenta mais e vai me deixar”, “e se meu pai
morrer?”, “e se minha mãe morrer?”, “tô sentindo uma dor estranha no peito,
será que vou enfartar?”, “será que estou com alguma doença ruim?”, daí pra
pior...
Dez minutos
de tortura psicológica e irrefreável depois, muitas lágrimas e muitas gotas do
floral Rescue na língua - além de telefonemas escandalosamente chorosos para o
namorado (ou o pai) - eu voltava para o
planeta terra:
- Mônicaaaa, cambio! É só uma poltrona! Você não está conseguindo
escrever porque está em crise de abstinência e depressão. É só uma fase, vai
passar. Se você não escrever nunca mais, ok, será porque esse ciclo se fechou
em sua vida e você vai saber por onde recomeçar e o que fazer (você sempre teve
boa intuição). Seus amigos te amam, te acolhem, te aceitam e estão do seu lado.
Sua família te ama, te acolhe, te aceita, te apoia e está do seu lado. Seu namorado
te ama, te acolhe, apoia, aceita e está do seu lado. Você continua sendo a
menina de sorte que sempre foi. Você continua tendo proteção divina. Você continua tendo olhos de ver. Sim, você engordou um
pouquinho, mas continua bonita. Você está fazendo o que é possível no momento. Você
está fazendo o melhor que pode.
Silenciado a poltrona, eu saia para rua para tentar fazer algo de construtivo para a minha
vida.
As notas que
fui tomando em forma de diário nos primeiros meses sem cigarro, a criação desta
página, as pesquisas feitas para este espaço, os textos, enfim, tudo isso foi
concebido e produzido nos últimos meses sem Cafés, não na minha poltrona.
Porém, hoje, depois
de dez meses vivendo uma vida que não parecia a minha, fui presenteada com um dia tipicamente da que sempre fui, mas não
venho (vinha?) conseguindo ser: acordei, caminhei na praia, comi pão integral
com poleguinho e ovo e café expresso; arrumei a casa, abri o computador e
sentei na minha amada poltrona para escrever.
Ela não me
engoliu, não esbofeteou minha cara, nem riu das minhas fraquezas. Pelo contrario, me deu um abraço saudoso, um dos mais importantes e
reconfortantes que já recebi. Merci.
monicamontone
Falando em
abraço
Sintam-se abraçados pela minha imensa gratidão família, namorado e amigos; sintam-se abraçados profissionais maravilhosos que me acompanham (terapeuta, médica clínica geral/homeopata e acupunturistas)
- sobre esses profissionais quero falar
separadamente em outros posts - eu não estaria conseguindo atravessar esse mar de fogo sem vocês.
imagem: google
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