30.10.17

5 meses sem fumar: depressão, carta (quase) suicida e mudança para SP


 Numa madrugada insone e completamente relutante a administrar o Rivotril (falei sobre, aqui) e/ou qualquer medicamento antidepressivo (por medo de me tornar dependente e por  preconceito) comecei a pensar seriamente que morrer seria um grande alívio.

Quanto mais minha terapia avançava, mais eu fazia contato com minhas impotências e frustrações;  quanto mais a abstinência do cigarro avançava, mais eu me sentia deprimida e mais crises ansiosas eu tinha. 

Enfim, tornei-me uma bomba-atômica ambulante, um coquetel molotov de frustração, medo e sentimento de fracasso - vale lembrar que passei por uma Transição Capilar traumática antes de parar de fumar e que talvez tenha sido naquele período que comecei a esboçar os primeiros indícios de depressão, mas fiz vistas grossas. 

Pois bem, após cinco meses sem fumar já não conseguia mais achar que "meu feito" (vencer um vicio) era algo grandioso e louvável, pelo contrário, olhava para o trapo de ser humano que tinha me tornado e me perguntava: "foi para isso que parei de fumar, para virar esse fiapo fracassado que além de não conseguir trabalhar gasta mais do que tem? Que teve que tomar tarja preta e apesar de estar avançado na casa dos trinta e muitos encontra-se totalmente perdido"?

Eu, justo eu que sempre fui uma criatura alegre e solar, brincalhona e apaixonada pela vida, passei a sentir uma tristeza profunda, tão profunda que me fez sentir saudades de mim e me levou a escrever uma carta (quase)  suicida para o meu pai e namorado. 

Eis abaixo alguns trechos da carta -  se fosse um conto vagabundo poderia se chamar "Auto-retrato de uma artista quando jovem":

Como seria bom se eu morresse agora. Mas ao mesmo tempo em que penso isso sinto culpa por pensar assim.

Já não sei mais se foi a retirada do cigarro que ativou essa bomba em mim. A única coisa que sei é que dei para abominar absolutamente tudo o que me cerca e que passei a sentir verdadeiro asco pela vida que construí até aqui.

Sinto nojo, repulsa de qualquer coisa que tenha relação com arte. Tenho convivido com poucos amigos por pura educação. Olho as possibilidades profissionais que tenho (e nem são ruins, são até auspiciosas) e abomino todas elas. Tomei ódio da escrita, tomei ódio da Internet, tomei ódio da literatura, tomei ódio da música e do palco. Repulsa sincera e verdadeira. Nojo absoluto.

Como viver diante desse cenário? Onde tudo o que eu acreditava ruiu?

Como prover meu sustento? Trabalhar no quê se as únicas coisas que aparentemente sei fazer têm me causado repulsa, nojo e terror? Se desejo morrer sempre que penso no futuro?

Fiquei achando que tudo isso podia ser efeito de uma depressão proveniente da abstinência, mas daqui a pouco completo 5 meses sem fumar e me pergunto: será mesmo que isso tudo tem a ver com falta de nicotina?

Verdadeiramente falando eu tenho sentido em alguns momentos uma alteração cerebral muito estranha e um medo muito grande de ficar louca. 

É uma sensação muito pungente de terror, desgraça, coisas ruins, catástrofes futuras.

Tenho momentos do dia de desligamento disso tudo. Geralmente quando vou para a academia, acupuntura ou pratico escapismo lendo revistas em cafés.

Todos os dias eu penso em morrer. E penso porque estou desolada com meu presente e aterrorizada com meu futuro.

Mas não pretendo me matar (tenho medo das consequências espirituais).

Nunca me senti tão devastada, desorientada, desiludida, apavorada e imensamente triste.

Tenho tentado me ajudar, tenho seguido as orientações dos médicos (hoje mesmo tomei o tal do Rivotril), mas...

Sinto-me uma perdedora, uma looser, um fracasso absoluto.

É por isso, por isso tudo que estou quieta. Não tenho assunto, estou repetitiva, monocórdica, com impulsos negativos. É por isso que ando preferindo nem falar ao telefone ou sair para jantar.

Tô com medo, muito medo de ter aberto um surto qualquer e de não conseguir recobrar minhas crenças, sonhos, trabalhos, lucidez. Retomar a fé.

É muito, muito triste para mim, que sempre amei viver, ter essa sensação diária de não querer viver mais por conta de uma vergonha avassaladora por ter me tornado uma looser.

Vou tentar dormir. ver se a merda do Rivotril faz efeito.

Desculpe-me por esse relato. Se possível não me julgue, nem me abandone.

 ***

Após ler a minha carta meu pai mandou uma passagem para SP e me levou para a sua casa. Meu querido pai cuidou carinhosamente de mim por quase três meses com toda generosidade e afeto. Sentir sua presença protetora nesse período foi fundamental e essencial para que eu vencesse todo esse processo de dor, desespero e luto. 


O peso na balança continuava ok, oscilando apenas 1,5g depois de algum final de semana ou período menstrual. Eu não estava mais fazendo a dieta Low-Carb com afinco, mas continuava fazendo uma dieta restritiva e continuava treinando todo dia.

monicamontone


imagem: google 

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