Quanto mais minha terapia avançava, mais eu fazia contato
com minhas impotências e frustrações; quanto mais a abstinência do cigarro
avançava, mais eu me sentia deprimida e mais crises ansiosas eu tinha.
Enfim, tornei-me uma bomba-atômica ambulante, um coquetel molotov de
frustração, medo e sentimento de fracasso - vale lembrar que passei por uma Transição Capilar traumática antes de parar de fumar e que talvez tenha sido naquele período que comecei a esboçar os primeiros indícios de depressão, mas fiz vistas grossas.
Pois bem, após cinco meses sem fumar já não conseguia mais achar que "meu feito" (vencer
um vicio) era algo grandioso e louvável, pelo contrário, olhava para o trapo de
ser humano que tinha me tornado e me perguntava: "foi para isso que parei de
fumar, para virar esse fiapo fracassado que além de não conseguir trabalhar
gasta mais do que tem? Que teve que tomar tarja preta e apesar de estar
avançado na casa dos trinta e muitos encontra-se totalmente perdido"?
Eu, justo eu que sempre fui uma criatura alegre e solar,
brincalhona e apaixonada pela vida, passei a sentir uma tristeza profunda, tão
profunda que me fez sentir saudades de mim e me levou a escrever uma carta (quase) suicida para o meu pai e namorado.
Eis abaixo alguns trechos da carta - se fosse um conto vagabundo poderia se chamar "Auto-retrato de uma artista quando jovem":
Como seria bom se eu morresse agora. Mas ao mesmo tempo em que penso isso sinto culpa por pensar assim.
Eis abaixo alguns trechos da carta - se fosse um conto vagabundo poderia se chamar "Auto-retrato de uma artista quando jovem":
Como seria bom se eu morresse agora. Mas ao mesmo tempo em que penso isso sinto culpa por pensar assim.
Já não sei mais se foi a retirada do cigarro que ativou essa
bomba em mim. A única coisa que sei é que dei para abominar absolutamente tudo
o que me cerca e que passei a sentir verdadeiro asco pela vida que construí até
aqui.
Sinto nojo, repulsa de qualquer coisa que tenha relação com
arte. Tenho convivido com poucos amigos por pura educação. Olho as
possibilidades profissionais que tenho (e nem são ruins, são até auspiciosas) e
abomino todas elas. Tomei ódio da escrita, tomei ódio da Internet, tomei ódio
da literatura, tomei ódio da música e do palco. Repulsa sincera e verdadeira.
Nojo absoluto.
Como viver diante desse cenário? Onde tudo o que eu
acreditava ruiu?
Como prover meu sustento? Trabalhar
no quê se as únicas coisas que aparentemente sei fazer têm me causado repulsa,
nojo e terror? Se desejo morrer sempre que penso no futuro?
Fiquei achando que tudo isso podia ser efeito de uma
depressão proveniente da abstinência, mas daqui a pouco completo 5 meses sem fumar e me pergunto:
será mesmo que isso tudo tem a ver com falta de nicotina?
Verdadeiramente falando eu tenho sentido em alguns momentos
uma alteração cerebral muito estranha e um medo muito grande de ficar
louca.
É uma sensação muito pungente de terror, desgraça, coisas
ruins, catástrofes futuras.
Tenho momentos do dia de desligamento disso tudo. Geralmente
quando vou para a academia, acupuntura ou pratico escapismo lendo revistas em
cafés.
Todos os dias eu penso em morrer. E penso porque estou
desolada com meu presente e aterrorizada com meu futuro.
Mas não pretendo me matar (tenho medo das consequências
espirituais).
Nunca me senti tão devastada, desorientada, desiludida,
apavorada e imensamente triste.
Tenho tentado me ajudar, tenho seguido as orientações dos
médicos (hoje mesmo tomei o tal do Rivotril), mas...
Sinto-me uma perdedora, uma looser, um fracasso absoluto.
É por isso, por isso tudo que estou quieta. Não tenho
assunto, estou repetitiva, monocórdica, com impulsos negativos. É por isso que
ando preferindo nem falar ao telefone ou sair para jantar.
Tô com medo, muito medo de ter aberto um surto qualquer e de
não conseguir recobrar minhas crenças, sonhos, trabalhos, lucidez. Retomar a
fé.
É muito, muito triste para mim, que sempre amei viver, ter essa sensação diária de não querer viver mais por conta de uma vergonha
avassaladora por ter me tornado uma looser.
Vou tentar
dormir. ver se a merda do Rivotril faz efeito.
Desculpe-me por esse relato. Se possível não me julgue, nem
me abandone.
***
Após ler a minha carta meu pai mandou uma passagem para
SP e me levou para a sua casa. Meu querido pai cuidou carinhosamente de mim por
quase três meses com toda generosidade e afeto. Sentir sua presença protetora nesse período foi fundamental e
essencial para que eu vencesse todo esse processo de dor, desespero e luto.
O peso na balança continuava ok, oscilando apenas 1,5g depois de algum
final de semana ou período menstrual. Eu não estava mais fazendo a dieta Low-Carb
com afinco, mas continuava fazendo uma dieta restritiva e continuava treinando
todo dia.
monicamontone
imagem: google
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