30.8.17

terceira semana sem cigarro: dias brancos

A sensação que tenho é que acordei de um sono profundo. Vago pelas ruas como uma sonambula. 

O sol por entre as frestas da janela já não me alegra como antes. O rapaz que mora na calçada da esquina e deu para falar sozinho já não me comove ao extremo. Estou lenta. Vagarosa. E todo e qualquer planejamento me leva à exaustão mental e emocional.

Planejar o almoço é um suplício! Primeiro porque não estou conseguindo planejar absolutamente nada com esta merda de consciência embotada; segundo porque planejar o almoço implica em ir ao mercado e escolher alimentos “certos” e “limpos” para não engordar.

E depois de escolher "os alimentos certos" (abobrinha, ovos, brócolis, queijo branco, folhas, etc e tal) ainda tenho que prepara-los. Só de pensar em desfiar toda aquela maldita abobrinha para que ela fique parecendo um espaguete me dá vontade de subir num foguete e desaparecer no espaço sideral.

Acabo tomando um café e comendo um pão de queijo na rua. Adio o almoço para o jantar.

Então é isso, além de ter ficado meio burra -  sim, porque desde que parei de fumar não consigo me concentrar nem mesmo na leitura de uma revista feminina – também perdi completamente minha capacidade de planejar o que quer que seja.

“Acalme-se, mocinha, acalme-se. Isso é só uma fase e você sabe que vai passar”. Tenho repetido esse mantra todos os dias.

Acontece que se o tempo não para nem quando quebramos nosso coração, que dirá quando paramos e fumar: os parceiros de trabalho começam a querer agendar reuniões, surge um novo show para fazer (e você só de imaginar o ensaio senta e chora), a fatura do cartão explode; você precisa escrever um novo texto para a sua coluna, mas tudo o que consegue fazer é chorar diante da tela branca.

É isso! A terceira semana sem cigarro é uma tela branca, um branco total. A mente fica branca, não funciona, os dias ficam brancos, lentos e sem cor; nosso raciocínio fica branco, as ideias desaparecem, o humor desaparece, o sono desaparece, a libido desaparece, parece que tudo desaparece e sobra apenas angustia, vontade de chorar, aperto no peito, medo de não conseguir levar o projeto saúde adiante, medo de engordar, medo de ficar burro pra sempre, medo de perder oportunidades de trabalho e, ufa, um certo orgulho por estar conseguindo se manter sem fumar mesmo assim.

“Não”. Eis a palavra que dá vontade de sair berrando por aí -  talvez “não perturbe” seria mais apropriado.

Já disse isso por aqui, mas não custa repetir: escolha começar essa jornada quando puder tirar férias ou se afastar do trabalho por um tempo, ou seja, quando puder pendurar a plaquinha de “não perturbe” nas portas de acesso a você. 

No mais, eis os melhores amigos da terceira semana: selinho de nicotina (NiQuitin 21mg), suco anti-fumo todas as manhãs, duas horas de atividade física diária, gotinhas de homeopatia e floral.


Nota: o relato acima foi escrito no bloco de notas do meu celular na terceira semana sem cigarro -  como já expliquei, venho fazendo um pequeno um diário desde que parei de fumar, há 9 meses, mas somente agora me senti apta a publicar e partilhar. 

monicamontone

imagem: google 

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