5.11.17

ondas de terror: ansiedade generalizada

Ao longo de minha vida tive algumas poucas crises de pânico. Em geral, elas seguiam a mesma cartilha de sintomas: falta de ar, sensação de perda de controle das emoções e dos pensamentos, dor no peito, falta de força nas mãos, formigamento nos lábios e nos braços, medo de morrer, medo de ter um enfarte, medo de ter um derrame, medo de ficar louca, medo,medo, medo. 

No entanto, elas sempre aconteceram em épocas bastante distintas e nunca se repetiram no mesmo período, por este motivo não posso dizer que tenho/tive Síndrome do Pânico -  as crises que tive caracterizam-se como "episódio de pânico" e/ou "crise ansiosa generalizada".

O último episódio de pânico que tive aconteceu um mês antes de eu parar de fumar e um dia antes da estreia de um monólogo que escrevi e apresentei num encontro literário - quando a apresentação acabou nem eu mesma acreditava que tinha conseguido, pois na noite anterior tinha aberto uma crise de pânico e ido parar no hospital.

Foi no fim do terceiro mês sem cigarro para o quarto mês (mais ou menos a mesma época em que parei de fazer reposição de nicotina ) que tive pela primeira vez o que chamei de “onda de terror”. 

Eu não estava tendo uma crise de pânico, pois não achava que ia morrer, tampouco estava com qualquer desconforto físico, mas de repente, sem qualquer motivo, comecei a chorar no meio da madrugada e a pensar milhões de desgraças (que meus familiares iam morrer, que eu ficar sem trabalho e seria despejada do meu apartamento, que meu namorado ia morrer, etc, etc, etc). 

Meu namorado ficou tentando (sem sucesso) me acalmar até o dia amanhecer. Não adiantava ele me dizer que todos da minha família estavam bem de saúde, eu tinha uma certeza absoluta de que alguém morreria. Não adiantava ele me mostrar as boas perspectivas profissionais do ano, eu tinha a mais plena certeza que tudo daria errado e eu ficaria sem dinheiro algum e assim por diante.

O tempo foi passando e a insônia foi avançando. Quanto menos eu dormia, mais tempo eu tinha para vivenciar “ondas de terror” e pouco a pouco elas foram me engolindo: passei a evitar assuntos, pessoas e lugares que pudessem me deixar ansiosa por este ou aquele motivo; passei a adiar decisões, porque qualquer ansiedade mínima -  inclusive por coisas boas – podia ativar uma “onda de terror” em mim.

Foram quase cinco meses de ondas de terror. No início elas duravam mais de uma hora e podiam se repetir durante o dia. Depois foram perdendo a força, aparecendo duas ou três vezes por semana, até que para minha total alegria e gratidão desapareceram completamente.

Mais tarde, pesquisando sobre transtornos ansiosos, descobri que “as tais ondas de terror” eram muito semelhantes aos sintomas de TAG (transtorno de ansiedade generalizada):

O transtorno da ansiedade generalizada (TAG), segundo o manual de classificação de doenças mentais (DSM.IV), é um distúrbio caracterizado pela “preocupação excessiva ou expectativa apreensiva”, persistente e de difícil controle, que perdura por seis meses no mínimo e vem acompanhado por três ou mais dos seguintes sintomas: inquietação, fadiga, irritabilidade, dificuldade de concentração, tensão muscular e perturbação do sono.

É importante registrar também que, nesses casos, o nível de ansiedade é desproporcional aos acontecimentos geradores do transtorno, causa muito sofrimento e interfere na qualidade de vida e no desempenho familiar, social e profissional dos pacientes.

Os sintomas podem variar de uma pessoa para outra. Além dos já citados (inquietação, fadiga, irritabilidade, dificuldade de concentração, tensão muscular) existem outras queixas que podem estar associadas ao transtorno da ansiedade generalizada: palpitações, falta de ar, taquicardia, aumento da pressão arterial, sudorese excessiva, dor de cabeça, alteração nos hábitos intestinais, náuseas, aperto no peito, dores musculares. (Drauzio Varela

O diagnóstico de TAG só pode ser fechado após seis meses de sintomas manifestados, por este motivo não recebi tal diagnóstico.

Geralmente os médicos indicam Fluoxetina X Rivotril para o tratamento de ansiedade generalizada, porém, após escutar inúmeros depoimentos sobre estes medicamentos resolvi optar por tratamentos alternativos: terapia, homeopatia, acupuntura e meditação -  mas não consegui escapar completamente do Rivotril, precisei adminstrá-lo em alguns momentos para a minha total insatisfação  -  falei sobre isso aqui

Escolhi um caminho mais longo para enfrentar minhas ondas de terror, foi bastante sofrido, mas consegui contorná-las. Não teria conseguido sem a terapia! A terapia me ajudou a identificar os gatilhos emocionais das minhas crises e a freá-las antes que iniciassem. 

Hoje, quando olho para trás e me lembro de todo o terror que vivi, do medo (sem qualquer conexão com a realidade) avassalador que experimentei, da sensação de estar presa num túnel sem saída, nem acredito que passou. Foram muitos os momentos em que pensei em morrer. 

Se isso tudo teve a ver com a falta do cigarro? Sim e não. 

Acredito que a retirada da nicotina (que funciona como antidepressivo) deflagrou um quadro de depressão (e crise existencial) que já existia - diversos estudos apontam que fumantes em geral têm propensão à depressão, porém o quadro é mascarado pelo consumo abusivo de nicotina. 

Mas passou! Assim como chegou, passou. Há meses deixei de vivenciar as tais ondas de terror. Passou! Foi como uma febre que dá e passa. Ufa.

monicamontone

Falando nisso

Fiz diversas pesquisas sobre TAG quando me identifiquei com alguns dos sintomas. Encontrei muitos sites, blogs e meninas falando sobre o transtorno no YouTube -  garotas que passaram mais de um ano nesse sofrimento e que hoje, com ajuda profissional, conseguiram retomar suas vidas. Indico o vídeo abaixo “Vivendo com Transtorno de Ansiedade Generalizada” para quem se identificou:

 imagem: google


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