Ao longo de
minha vida tive algumas poucas crises de pânico. Em geral, elas seguiam a mesma
cartilha de sintomas: falta de ar, sensação de perda de controle das emoções e
dos pensamentos, dor no peito, falta de força nas mãos, formigamento nos lábios
e nos braços, medo de morrer, medo de ter um enfarte, medo de ter um derrame,
medo de ficar louca, medo,medo, medo.
No entanto, elas sempre aconteceram em épocas bastante distintas e nunca se repetiram no mesmo
período, por este motivo não posso dizer que tenho/tive Síndrome do Pânico - as crises que tive caracterizam-se como "episódio de pânico" e/ou "crise ansiosa generalizada".
O último
episódio de pânico que tive aconteceu um mês antes de eu parar de fumar e um
dia antes da estreia de um monólogo que escrevi e apresentei num encontro
literário - quando a apresentação acabou
nem eu mesma acreditava que tinha conseguido, pois na noite anterior tinha
aberto uma crise de pânico e ido parar no hospital.
Foi no fim
do terceiro mês sem cigarro para o quarto mês (mais ou menos a mesma época em que parei de fazer reposição de nicotina ) que tive pela primeira vez o que
chamei de “onda de terror”.
Eu não estava tendo uma crise de pânico, pois não
achava que ia morrer, tampouco estava com qualquer desconforto físico, mas de
repente, sem qualquer motivo, comecei a chorar no meio da madrugada e a pensar
milhões de desgraças (que meus familiares iam morrer, que eu ficar sem trabalho
e seria despejada do meu apartamento, que meu namorado ia morrer, etc, etc,
etc).
Meu namorado ficou tentando (sem sucesso) me acalmar até o
dia amanhecer. Não adiantava ele me dizer que todos da minha
família estavam bem de saúde, eu tinha uma certeza absoluta de que alguém
morreria. Não adiantava ele me mostrar as boas perspectivas profissionais do
ano, eu tinha a mais plena certeza que tudo daria errado e eu ficaria sem
dinheiro algum e assim por diante.
O tempo foi
passando e a insônia foi avançando. Quanto menos eu dormia, mais tempo eu tinha
para vivenciar “ondas de terror” e pouco a pouco elas foram me
engolindo: passei a evitar assuntos, pessoas e lugares que pudessem me deixar
ansiosa por este ou aquele motivo; passei a adiar decisões, porque qualquer
ansiedade mínima - inclusive por coisas
boas – podia ativar uma “onda de terror” em mim.
Foram quase
cinco meses de ondas de terror. No início elas duravam mais de uma hora e
podiam se repetir durante o dia. Depois foram perdendo a força, aparecendo duas
ou três vezes por semana, até que para minha total alegria e gratidão desapareceram completamente.
Mais tarde,
pesquisando sobre transtornos ansiosos, descobri que “as tais ondas de terror”
eram muito semelhantes aos sintomas de TAG (transtorno de ansiedade
generalizada):
O
transtorno da ansiedade generalizada (TAG), segundo o manual de classificação
de doenças mentais (DSM.IV), é um distúrbio caracterizado pela “preocupação
excessiva ou expectativa apreensiva”, persistente e de difícil controle, que
perdura por seis meses no mínimo e vem acompanhado por três ou mais dos
seguintes sintomas: inquietação, fadiga, irritabilidade, dificuldade de
concentração, tensão muscular e perturbação do sono.
É importante
registrar também que, nesses casos, o nível de ansiedade é desproporcional aos
acontecimentos geradores do transtorno, causa muito sofrimento e interfere na
qualidade de vida e no desempenho familiar, social e profissional dos
pacientes.
Os sintomas
podem variar de uma pessoa para outra. Além dos já citados (inquietação, fadiga,
irritabilidade, dificuldade de concentração, tensão muscular) existem outras
queixas que podem estar associadas ao transtorno da ansiedade generalizada:
palpitações, falta de ar, taquicardia, aumento da pressão arterial, sudorese
excessiva, dor de cabeça, alteração nos hábitos intestinais, náuseas, aperto no
peito, dores musculares. (Drauzio Varela)
O diagnóstico
de TAG só pode ser fechado após seis meses de sintomas manifestados, por este
motivo não recebi tal diagnóstico.
Geralmente
os médicos indicam Fluoxetina X Rivotril para o tratamento de ansiedade
generalizada, porém, após escutar inúmeros depoimentos sobre estes medicamentos
resolvi optar por tratamentos alternativos: terapia, homeopatia, acupuntura e
meditação - mas não consegui escapar completamente do Rivotril, precisei adminstrá-lo em alguns momentos para a minha total insatisfação - falei sobre isso aqui
Escolhi um
caminho mais longo para enfrentar minhas ondas de terror, foi bastante sofrido,
mas consegui contorná-las. Não teria conseguido sem a terapia! A terapia me ajudou a identificar os gatilhos emocionais das minhas crises e a freá-las antes que iniciassem.
Hoje, quando
olho para trás e me lembro de todo o terror que vivi, do medo (sem qualquer
conexão com a realidade) avassalador que experimentei, da sensação de estar
presa num túnel sem saída, nem acredito que passou. Foram muitos os momentos
em que pensei em morrer.
Se isso tudo teve a ver com a falta docigarro? Sim e não.
Acredito que a retirada da nicotina (que funciona como antidepressivo) deflagrou um quadro de depressão (e crise existencial) que já existia - diversos estudos apontam que fumantes em geral têm propensão à depressão, porém o quadro é mascarado pelo consumo abusivo de nicotina.
Se isso tudo teve a ver com a falta do
Acredito que a retirada da
Mas passou! Assim
como chegou, passou. Há meses deixei de vivenciar as tais ondas de terror. Passou!
Foi como uma febre que dá e passa. Ufa.
monicamontone
Falando
nisso
imagem: google
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